Vivo em um mundo calmo e aconchegante. É tudo tão quieto e escuro... Tento olhar o que há na minha frente, mas nessa escuridão absoluta eu só vejo o infinito. E sonho com tudo aquilo que eu ainda irei encontrar. Sinto-me tão feliz... Até que um dia eu tropeço em uma televisão. Penso duas, três, quatro vezes antes de ligá-la. Ligo. E passo horas sentado em frente a tela, hipnotizado com as cores, os sons e os movimentos. Hipnotizado com a cor dos olhos, a voz e o beijo daquela mulher. E percebo que o mundo não era aquilo que eu imaginava. A luz fraca que sai da tela ilumina um pouco a escuridão a minha volta e me faz perceber que o meu mundo é, na verdade, um quarto fechado, decorado com milhares de fotos espalhadas pelas paredes. Nenhuma janela, apenas uma porta. Corro até ela e... TOC TOC TOC! Chamo por alguém, mas não tenho resposta. Presto atenção e do outro lado eu consigo escutar pessoas andando e conversando e rindo e chorando e comendo e batendo e acariciando e matando e vivendo... Sento-me encostado na porta, imaginando o que haveria atrás dela, sonhando com tudo aquilo que eu ainda iria encontrar do lado de lá. Não seI por quanto tempo eu fico assim, até que eu me lembro daquela mulher na televisão, daqueles olhos, daquela voz, daquele beijo. E fico imaginando se tudo aquilo também estaria me esperando do lado de lá. Viro-me para a porta e chamo por ela. Não pela mulher da televisão, mas por outra pessoa. Não sei quem, apenas chamo. E num suspiro eu digo "te amo", enquanto choro toda vontade que tenho de encontrá-la... E me pergunto "por que passar pela porta é tão difícil?" Ou então, se eu pelo menos pudesse esquecer a mulher da televisão... Mas vou tentar sair! Ou entrar, não sei... Nem sei também quanto tempo irei levar. Talvez um dia desses eu tropece na chave para a solução. Talvez eu fique preso para sempre! De qualquer forma, no momento eu preciso fazer uma coisa urgente: destruir aquela televisão. E depois torcer para que do lado de lá não existam mais portas esperando por mim.